sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Soneto de Luís Vaz de Camões

Este amor que vos tenho, limpo e puro


Este amor que vos tenho, limpo e puro, 

de pensamento vil nunca tocado, 

em minha tenra idade começado, 

tê-lo dentro nesta alma só procuro. 


De haver nele mudança estou seguro, 

 sem temer nenhum caso ou duro Fado, 

nem o supremo bem ou baixo estado, 

nem o tempo presente nem futuro. 


A bonina e a flor asinha passa; 

tudo por terra o Inverno e Estio 

deita, só para meu amor é sempre Maio.

 

Mas ver-vos para mim, Senhora, escassa, 

e que essa ingratidão tudo me enjeita, 

traz este meu amor sempre em desmaio.

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